Diferentes Contextos na Reabilitação Neuropsicológica

 

Nos tempos atuais vemos crescer as recomendações para a urgente implementação de tratamentos para atenuar os prejuízos cognitivos, psicológicos e sociais de muitos pacientes que sofreram perdas nessas áreas por diversas causas. E mesmo assim, ainda encontramos na comunidade científica muitos questionamentos sobre a eficácia dos programas de reabilitação neuropsicológica.
Pois bem, reabilitar significa restituir ao estado anterior, restaurar a normalidade ou pelo menos o mais próximo possível a normalidade em questões como forma e função orgânicas após traumatismos ou doenças.
A reabilitação, então, pode ser vista como uma processo de mudança ativa, tendo como objetivo a capacitação de pessoas acometidas por doenças ou lesões a atingir níveis ideais de funcionamento físico, psicológico e/ou social.
A reabilitação neuropsicológica têm como seu objetivo maior auxiliar pacientes, familiares e cuidadores a conviver, reduzir ou superar as deficiências cognitivas, e as limitações emocionais e sociais proporcionando uma significativa melhora na sua qualidade de vida. Ela ocupa-se especificamente do tratamento das funções cognitivas, ou seja, das funções cerebrais e sua manifestação no desempenho das tarefas diárias do paciente.
Muitas pessoas acreditam que praticar atividades cognitivas como: resolver problemas de aritmética e lógica, montar quebra-cabeças, treinar a habilidade de concentração e ler, pode ajudar na reabilitação. Porém sabemos que geralmente isso não é suficiente.
Problemas que requerem reabilitação:
- cognitivos: atenção, memória, déficits executivos, dificuldades para encontrar palavras, etc.
- não-cognitivos adicionais: ansiedade, depressão, habilidades sociais, etc.
Mecanismos de Reabilitação Neuropsicológica:
a) restituição de função, quando as lesões são parciais.
b) substituição da função, usando áreas adjacentes ou outros circuitos neuronais.
c) compensação, criando-se um repertório de novas estratégias para a vida diária sejam elas internas ou externas.
d) modificação do ambiente através do enriquecimento ou adaptações para promover a melhora nas habilidades da vida diária.
As técnicas que podem ser utilizadas sendo isoladas ou combinadas são:
a) restauração da função: estimulação/ativação.
b) compensação da função: apoio e suporte externo.
c) otimização das funções residuais: treino de estratégias.
O planejamento do Programa de Reabilitação Neuropsicológica deve levar os seguintes pontos em consideração:
a) deve-se levar em conta as fraquezas e forças neurofuncionais do paciente.
b) habilidades básicas devem ser fortalecidas antes que as mais complexas sejam trabalhadas.
c) as atividades devem ser hierarquicamente organizadas.
A reabilitação neuropsicológica pode ser realizada em diferentes contextos de acordo com o caso e a necessidade do paciente. São eles:
1) Hospital
Na fase pós-aguda podemos realizar sessões individuais e em grupos como forma de conscientização das seqüelas e dos déficits. E na orientação aos familiares quanto aos déficits e quanto à, talvez, provável modificação do ambiente residencial.
2) Consultório
Em consultório podemos utilizar jogos e exercícios computadorizados ou não; a terapia de reminiscência (significa que será trabalhado no paciente com problemas de memória, a lembrança de épocas e incidentes em seu passado); será estimulado a fazer planejamento de atividades diárias e outras respeitando e aumentando gradualmente a complexidade das mesmas e por fim também são "convencidos" da importância de implementação de recursos como agendas, cadernos de memória, listas, lembretes fixados em locais de fácil visualização na residência entre outros.
3) Ambiente externo
O paciente é estimulado (e acompanhado) a realizar situações cotidianas como o trabalho, restaurantes, supermercado, atividades de lazer, ou seja, o treinamento de habilidades sociais.
4) Escola/ambiente acadêmico
Aquele paciente que freqüentava ambiente acadêmico/escolar é estimulado à retornar a este ambiente e retomar o conteúdo das aulas, verificando os trabalhos e tarefas. É também necessário o contato com professores, orientadores e coordenadores para que se faça alterações e/ou adaptações na medida do necessário.
5) Residência
Em casa podemos realizar treinamento cognitivo, organizar ou modificar o ambiente, fazer mapas ou tarefas indicando como se orientar pelo prédio, ou arrumar coisas de forma que não sejam esquecidas e estabelecer um local de referência para objetos pessoais.
6) A distância
No programa de reabilitação à distância é necessário que se estabeleça uma parceria com um profissional (cuidador) local que irá desenvolver as atividades que serão envidas e supervisionadas pelo reabilitador que é responsável pelo caso. Em visitas periódicas ao paciente são feitas as reavaliações do programa "in loco". 

 

Artigo escrito por Dra. Karla Behring Cardoso (psicóloga)

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