A introdução da criança na Educação Infantil

 

A introdução da criança na Educação Infantil e sua permanência, nem sempre é tão aceita por ela, gerando-lhe, muitas vezes, angústia, ansiedade, insegurança, sentimentos também que podem ser observados em seus responsáveis (pais, avós). E se essa é uma realidade, é preciso pensar de que modo organizar o contexto da Educação Infantil, de modo a propiciar à criança um ambiente "familiar" de comunicação infantil, entre as crianças e destas com os adultos. A inclusão nesse contexto possibilita a socialização, a integração em diferentes grupos, a exploração e a compreensão do ambiente no qual está inserida e auxilia no desenvolvimento de diferentes formas de linguagem.
Aderindo tal idéia, podemos afirmar que todos nós, desde o nascimento, já pertencemos a um grupo e para a preservação da vida, é necessária a relação entre as pessoas. Podemos, então, defender que a inclusão da criança desde os primórdios da Educação Infantil proporciona uma melhor estruturação do EU e na aprendizagem da própria vida, no desenvolvimento afetivo, motor, intelectual e social. Nesta perspectiva podemos perceber a Educação Infantil como um meio que possibilita à criança conhecer e analisar o mundo e construir sua personalidade.
Esta fase cria uma zona de desenvolvimento proximal (Vygotsky) — zona caracterizada pela distância entre o nível de desenvolvimento real que se costuma determinar pela solução independente de problemas e o nível de desenvolvimento potencial, determinado pelas soluções de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com parceiros mais experientes — na criança, que sempre se comporta além do comportamento habitual de sua idade. Essa concepção nos leva a avaliar sua importância ao mostrar que na integração com o outro, a inclusão se faz presente.
Nessa visão, sentir-se aceita com sentimento de pertencimento, seja no grupo familiar ou educacional ao qual está inserida, permitirá à criança formar um auto-conceito positivo sobre si mesma.
Já Piaget baseia-se na idéia da criança pesquisadora/exploradora que constrói o seu conhecimento pela experiência. Dá ênfase ao processo de interação indivíduo-ambiente, procurando compreender os mecanismos mentais que o indivíduo utiliza para captar o mundo. O desenvolvimento cognitivo individual se dá por constantes desequilíbrios e equilibrações causados por mudanças internas do indivíduo ou do ambiente. O equilíbrio ocorre por assimilação, ou seja, o indivíduo usa as estruturas que já tem para entender as demandas, ou por acomodação, isto é, modificam-se as estruturas internas com a nova situação. Entende a criança como "sujeito", atribui importância aos processos internos sem os quais o ambiente torna-se ineficaz. Rejeita a concepção meramente "acumuladora" da aprendizagem: esta é produzida não através de seqüências ordenadas em cada capacidade, mas de conexões (esquemas mentais) que estão na sua base.
Assim podemos refletir que a modificação do cérebro se realiza a partir da interação da criança com o ambiente, com outras pessoas, em suas atividades lúdicas e não apenas em conseqüência da carga genética que são transferidos de pais para filhos. Os conhecimentos trazidos pela neurologia e a neuropsicologia podem ser aplicados também às importantes funções do cérebro como a memória, a imaginação e a capacidade de estabelecimento de relações.
Podemos então afirmar que os esquemas mentais construídos pela criança são desvelados a partir de suas experiências vividas, das relações e interações com o mundo.
E é sob essa perspectiva que se deve reconhecer cada criança, cada sujeito na sua especificidade, com seu ritmo, com suas experiências e vivências, com seus esquemas mentais construídos e que, por isso mesmo, deve ser respeitada em suas características, seu desenvolvimento, seus interesses e em suas necessidades.
Sugiro, para finalizar, um ambiente planejado para a criança, especialmente com objetivo de estimular socialização, criatividade, comunicação, livre expressão, construção, solução de problemas, seu desenvolvimento enquanto pessoa e de suas capacidades de se relacionar e de aprender, construindo individual ou coletivamente o seu próprio conhecimento.
Um ambiente em que a criança pode fazer suas escolhas, levantar hipóteses, testar e errar, desenvolver-se dentro de suas próprias possibilidades, encontrando no adulto o parceiro que o apóia, sugere, incentiva a utilização de movimentos corporais e expressões gestuais e a exploração de maior quantidade possível de materiais.
O planejamento e a intervenção para a maximização e a potencialização do desenvolvimento da criança, deve levar em conta suas diferenças sendo a referência de trabalho do professor.
É nesse contexto que o adulto pode e deve ser entendido como aquele que tem o papel de potencializar, de modo intencional e sistemático, a socialização da criança, a construção de sua identidade, a sua inserção, por atividades motivadoras e significativas e de uma competente seleção de material e de organização do ambiente.
Assim, não protagoniza o papel central que domina um processo de intervenção, mas, exercita a mediação nas interações da criança com os objetos e o espaço, criando e mantendo as condições para que interações potencializadoras do desenvolvimento da criança ocorram. Esse modelo de interação poderá ser determinante no sucesso da integração da criança no ambiente e poderá influenciar significativamente o tipo de interação que ela estabelecerá com os objetos e com as outras crianças será, sobretudo, determinante em sua construção do conhecimento.
Ressalto que um ambiente de afetividade, de flexibilidade, de integração, facilita a aceitação mútua e o desenvolvimento de uma atitude positiva. 

 

Artigo escrito por Dra. Karla Behring Cardoso (psicóloga)

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