Review Article "Exercise and Mental Health: Many Reasons to Move"

O artigo de revisão “Exercise and Mental Health: Many Reasons to Move” de Deslandes et al. de 2009, buscou apontar estudos científicos que sugerem por evidências que o exercício físico regular e metodológico pode auxiliar como fator de eficiência adjuvante, não farmacológico, nos tratamentos de transtornos neuropsiquiátricos e disfunção cognitiva tanto no âmbito de se retardar os processos neurodegenerativos no envelhecimento como possibilidade de se evitar o surgimento destas. Embora ainda escassos, foi possível selecionar estudos que investigaram a aplicação de exercícios físicos, aeróbio de intensidade e força moderadas, correlacionados à liberação de neurotransmissores, fator neurotrófico, neurogênese e alteração de fluxo sanguíneo cerebral.

            A metodologia utilizada pela revisão foi a de selecionar doenças mentais específicas sendo elas a Depressão Maior (DM), a Doença de Parkinson (DP) e a Doença de Alzheimer (DA) todas correlacionadas aos efeitos clínicos na utilização de exercícios, além de serem excluídas as pesquisas que não especificaram os métodos de diagnóstico clínico e os que possuíam situações de comorbidade. Tal procedimento delineou doenças mentais específicas e cada vez mais comuns na população atual, onde se constata cada vez mais a necessidade urgente de estudos, uma vez que esta tem atingindo uma expectativa de vida ainda maior com o passar do tempo e desenvolvido em maior grau problemas de saúde física e mental de cunho neurodegenerativo.

            As conclusões obtidas nos artigos selecionados demonstraram que os exercícios aeróbios de intensidade moderada são significativamente eficazes no tratamento do transtorno depressivo maior nos graus leve e moderado; na DA pode-se constatar que exercícios de flexibilidade, força e aeróbio diários apontaram redução da incidência de demenciação ou deterioração cognitiva e que intervenções de exercício motor melhoraram o estado afetivo-psicológico e a saúde física e funcional, diminuindo o número de internações, reduzindo sintomas depressivos e possibilitando uma qualidade de vida melhorada ao paciente. Já na DP os exercícios de equilíbrio e força atuaram na redução de quedas, na redução de sintomas neurológicos auxiliando na melhora de qualidade de vida e de capacidade funcional para a vida diária.

            Corroborando os resultados encontrados pela prática de exercícios relacionando-os às doenças mentais específicas mencionadas, o artigo em questão ainda delineou algumas hipóteses neurofisiológicas de alguns estudos que demonstraram através de pesquisas com animais (ratos) os efeitos benéficos do exercício regular como base na capacidade de geração de espécies reativas de oxigênio, ou seja, que o exercício induz a produção de espécies reativas de oxigênio que tem papel antioxidante, reparo de enzimas de DNA e de proteínas de degradação resultando em diminuição na incidência de doenças ligadas ao estresse oxidativo. Com a prática do exercício há aumento de síntese e liberação de vários fatores neurotróficos que estão relacionados ao melhor funcionamento cognitivo, a neurogênese, a angiogênese e a plasticidade sináptica.

            Hipóteses como o fator neurotrófico de desenvolvimento cerebral (BDNF) que é essencial ao funcionamento do hipocampo, plasticidade sináptica, aprendizado e modulação da depressão também foram relatados demonstrando que os exercícios atuam elevando níveis de BDNF que age no hipocampo como droga antidepressiva além de acelerar o aprendizado e o aumento de IGF-1 (fator neurotrófico de crescimento semelhante à insulina) que também melhora o desempenho cognitivo. Outras hipóteses também foram mencionadas como a da testosterona que é considerada como chave para níveis mais elevados de BDNF, uma vez que esta se transforma em estradiol e que, sugere que esta esteja envolvida com aspectos cognitivos e de regulação de humor, além de estudos que demonstraram produção, através de exercícios, de elevados níveis de alguns neurotransmissores como a serotonina (5-HT), norepinefrina (NE), acetilcolina (ACh) e dopamina (D) que estão ligadas à regulação de humor.

            Entretanto o estudo mais interessante e inovador apontado pelo artigo de revisão é a hipótese da ativação do sistema endocanabinóide como via neurofisiológica que através de exercícios de intensidade moderada demonstrou níveis plasmáticos elevados de anandamina e que esta provoca analgesia, sedação ansiolítica e sensação de bem-estar e que explicaria melhor o efeito de analgesia gerada pelo exercício derrubando a hipótese do sistema de endorfina, uma vez que esta só é liberada com exercícios de alta intensidade e mesmo assim ainda tendo que superar o bloqueio da barreira hematoencefálica.


Conclusão

            É fato que exercícios físicos praticados com regularidade e metodologia específica contribuem para uma melhoria na qualidade de vida, no aumento de força e equilíbrio, entretanto a eficácia destes como intervenção não farmacológica ainda não está devidamente investigada como fator adjuvante no tratamento de transtornos mentais. Embora seja hoje um assunto que causa amplo interesse, poucos estudos randomizados são encontrados quanto à relação aos déficits ocasionados pelo envelhecimento humano e doenças neurodegenerativas provenientes deste estado e a prática de exercícios.

            Estudos como estes são de extrema importância para o tratamento de transtornos mentais por se manifestarem menos invasivos e que podem facilitar não somente o benefício na saúde em si, mas também como a possibilidade de se reduzir os efeitos colaterais orgânicos provenientes da psicofarmacologia aplicada atualmente.

 

Referência Bibliográfica

 

Deslandes, Andrea et. al. Exercise and Mental Health: Many Reasons to Move. Review. Neuropsychobiology 2009;59:191–198

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