CONTRIBUIÇÃO DA NEUROCIÊNCIA PARA A PSICOLOGIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL E A NEUROPSICOLOGIA
RESUMO
Estudos atuais em neurociências apresentam uma visão integrada do funcionamento humano que envolve a presença de relações entre os grandes sistemas orgânicos, entre estados fisiológicos e cognitivos e entre razão e emoção. Investiga-se a importância de respostas emocionais e do comportamento verbal para a expressão de respostas tidas como racionais e, de uma maneira geral, para a seleção do repertório comportamental, verbal e não-verbal.
O intercâmbio da TCC com a neurociência é o diálogo entre mente e cérebro. Podemos considerar que mente e cérebro são integrados e interdependentes. Os processos mentais exercem influência na plasticidade cerebral em vários níveis como celular, molecular e em circuitos neurais.
As pesquisas em neurociências colaboram para potencializar o conhecimento sobre as bases neurobiológicas das psicopatologias e da TCC, assim como auxilia no refinamento de intervenções a fim de aumentar a eficácia do tratamento. Os estudos de regulação de emoção são exemplos de como podemos integrar os achados da neurociência às teorias da TCC.
A complexidade do cérebro e da cognição humana leva a necessidade da participação de profissionais de diversas áreas para que se possa compreender não só “onde” está a lesão, mas também “o quê” da cognição deve ser recordado, “como” as estruturas neurais processam e são processadas por esta cognição e ainda, “como” e “porquê” reabilitar o paciente com distúrbios cognitivos. A neuropsicologia é uma ciência que inclui a promoção da saúde, a prevenção da doença e a reabilitação em todas as idades e em qualquer fase do ciclo de vida do indivíduo e tem nas pesquisas em neurociências os subsídios necessários para o melhor entendimento das bases neurobiológicas das psicopatologias.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
1. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL (TCC)
2. A CONTRIBUIÇÃO DA NEUROCIÊNCIA PARA A TCC
3. PRINCÍPIOS DA NEUROPSICOLOGIA
3.1. Reabilitação Neuropsicológica
4. A CONTRIBUIÇÃO DA NEUROCIÊNCIA PARA A NEUROPSICOLOGIA
CONCLUSÃO
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
INTRODUÇÃO
Os processos cerebrais superiores funcionam como uma totalidade, desde que permaneçam preservadas as funções básicas do pensamento e da linguagem, explorando as conexões que se estabelecem entre memória, imaginação e consciência, contrapondo-se, assim, à explicação de que uma vez afetada uma região cerebral, diga-se, que a pessoa está irremediavelmente condenada, ou nada ou quase nada mais há a fazer.
A hipótese que a intervenção científica seja pela TCC, seja pela Neuropsicologia se faz legitimada pelas pesquisas em neurociências, uma vez que tais pesquisas apresentam cada vez mais descobertas relevantes para a fisiopatologia do comportamento e dos transtornos mentais, em suma, dos mecanismos cerebrais.
1. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL
A TCC abrange uma variedade de mais de 20 abordagens dentro do modelo cognitivo e cognitivo-comportamental. Três princípios fundamentais norteiam as características que estão no cerne das terapias cognitivo-comportamentais: a atividade cognitiva influencia o comportamento; a atividade cognitiva pode ser monitorada e alterada; e, o comportamento desejado pode ser influenciado mediante a mudança cognitiva.
A TCC baseia-se na suposição de que a inter-relação entre cognição, emoção e comportamento está implicada no funcionamento normal do ser humano. Um evento comum do nosso cotidiano pode gerar diferentes formas de sentir e agir em diferentes pessoas, mas não é o evento em si que gera as emoções e os comportamentos, mas sim o que nós pensamos sobre o evento; nossas emoções e comportamentos estão influenciados pelo que pensamos. Nós sentimos o que pensamos, os quais geram, como consequência, as emoções e os comportamentos.
As distorções do pensamento, isto é, as distorções cognitivas, são bastante prevalentes em diferentes transtornos. Distorções cognitivas são vieses sistemáticos na forma como indivíduos interpretam suas experiências. Se a situação é avaliada erroneamente, essas distorções podem amplificar o impacto das percepções falhas. As distorções cognitivas podem levar o indivíduo a conclusões equivocadas mesmo quando sua percepção da situação está acurada. O objetivo da TCC é corrigir as distorções do pensamento.
Entretanto é importante saber que a TCC não é um modelo linear em que “as situações ativam pensamentos, que geram uma consequência com resposta emocional, comportamental e física”. Há uma interação recíproca de pensamentos, sentimentos, comportamentos, fisiologia e ambiente. O trabalho da terapia cognitiva inicia com a avaliação e modificação dos pensamentos, porque a alteração destes pode gerar um impacto em todos os outros componentes.
A interação de vários fatores (genéticos, ambientais, culturais, físicos, familiares, de desenvolvimento e personalidade) predispõe o indivíduo à vulnerabilidade cognitiva. Essas interações e interfaces de todos esses fatores entram na formação das crenças e dos pressupostos idiossincráticos de si mesmo, das pessoas e do mundo, determinando quais eventos de vida irão acionar reações mal-adaptativas.
O objetivo inicial da TCC é o de quebrar o ciclo que perpetua e amplifica os problemas do indivíduo.
2. A CONTRIBUIÇÃO DA NEUROCIÊNCIA PARA A TCC
A neurociência estuda o sistema nervoso procurando entender os mecanismos físicos das capacidades psicológicas.
Por contribuição da neurociência, hoje se sabe como os diferentes sistemas cerebrais são interconectados e que o cérebro tem capacidade de categorizar os estímulos, conforme a sua importância, muito embora ainda seja pouco entendida como ocorre o processo de organização cerebral. Entretanto, já se tem conhecimento de como o indivíduo percebe os sentimentos e emoções, essenciais ao procedimento na TCC, principalmente nos transtornos neuropsiquiátricos.
Estudos em neurociência fundamentam a psicologia cognitivo-comportamental, trazendo como consequências positivas explicações etiológicas mais integrativas dos transtornos psicológicos e uma prática muito mais objetiva e agregada à psicofarmacologia (desenvolvida e aprimorada nas pesquisas neurocientíficas), na tentativa de aumento da qualidade de vida do paciente.
3. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA NEUROPSICOLOGIA
A neuropsicologia é o campo de investigação das relações entre funções psicológicas e atividade cerebral, as relações existentes entre o cérebro e as manifestações do comportamento. Seu interesse está no estudo das funções cognitivas, como a memória, a linguagem, o raciocínio, as habilidades visuo-espaciais, o reconhecimento, a capacidade de resolução de problemas, etc. As alterações estudadas são as afasias, as agnosias, as amnésicas e as apraxias. Também as alterações nas dimensões da cognição como: a) atividades construtivas (execução de tarefas complexas, realização de atos construtivos em sequência, tarefas psicomotoras, etc.); b) habilidades visuo-espaciais (análise e julgamento de relações espaciais, reconhecimento e memorização de figuras complexas, etc.); c) atenção sustentada e seletiva; d) percepção do tempo e organização temporal; e) funções executivas (identificação e resolução de problemas novos, elaboração de estratégias de ação, execução de tarefas sequenciais, etc.) e, f) funções conceituais (formação de conceitos, desenvolvimento de raciocínios, pensamento lógico, habilidades aritméticas, etc.).
O objetivo geral é de identificação de déficits e sua gravidade e determinação de como eles afetam o funcionamento geral do indivíduo. Estabelecimento das inter-relações entre déficits, as correlações entre déficits específicos e a neuropatologia.
E os objetivos específicos são de estabelecer e/ou contribuir para um diagnóstico clínico. Delinear o perfil cognitivo em casos de diagnóstico já determinado (estimativa da evolução da enfermidade; do prognóstico de enfermidade; delineamento de programas de reabilitação cognitiva) e o acompanhamento de fármacos.
A neuropsicologia tem assumido uma posição de destaque no diagnóstico dos quadros de comprometimento cognitivo, fazendo atualmente parte integrante de muitos critérios diagnósticos.
3.1.Reabilitação Neuropsicológica
A reabilitação neuropsicológica (RN) representa importante iniciativa para a promoção e manutenção da capacidade funcional e cognitiva da pessoa com comprometimento cognitivo e da sua qualidade de vida.
Reabilitar significa restituir ao estado anterior, restaurar a normalidade, ou ao mais próximo desta, a forma e a função do organismo, após trauma ou doença. Tecnicamente, a reabilitação pode ser definida como um processo de mudança ativa, com o objetivo de capacitar ideais de funcionamento físico, psicológico e social. A RN tem como objetivo ajudar pacientes e familiares a conviver, reduzir ou superar as deficiências cognitivas, e as limitações emocionais e sociais, proporcionando melhora na qualidade de vida.
4. CONTRIBUIÇÃO DA NEUROCIÊNCIA PARA A NEUROPSICOLOGIA
A neuropsicologia avalia a função cerebral fazendo deduções a partir do comportamento cognitivo, sensório-motor, emocional e social de um indivíduo.
Com as pesquisas em neurociências o diagnóstico de dano cerebral torna-se cada vez mais preciso como resultado da melhor visualização da estrutura cerebral através de tomografia computadorizada (TC), imagem de ressonância magnética (IRM) e angiografia. Os avanços nas técnicas de exame eletrofisiológico e da neuroimagem quantitativa e funcional enriquecem ainda mais o entendimento a cerca de distúrbios patológicos do cérebro. O desenvolvimento, a partir desses estudos, permite um desvio no foco da avaliação neuropsicológica do diagnóstico de possível dano cerebral para um melhor entendimento das relações específicas cérebro-comportamento e das consequências psicossociais de dano e/ou disfunção cerebral.
A neurociência, em seus estudos, fornece subsídios para que a avaliação neuropsicológica possa ser útil na definição da natureza e na gravidade de problemas comportamentais e emocionais resultantes em transtornos neuropsiquiátricos.
CONCLUSÃO
Para concluir, pode-se resumir os princípios da terapia cognitivo-comportamental da seguinte forma: (a) é uma terapia focal fundamentada no modelo teórico que estipula que estão envolvidas cognições disfuncionais nos transtornos psicológicos; (b) focaliza seu trabalho no exame e na correção de distorções nos três níveis de cognição: pensamentos automáticos, pressupostos subjacentes e crenças nucleares (também chamadas de esquemas); (c) é psicoeducativa; (d) utiliza uma variedade de técnicas cognitivas e comportamentais para modificar pensamentos, humor e comportamentos.
A importância da neuropsicologia não se limita aos aspectos diagnósticos e prognósticos, mas das estratégias que seriam mais efetivas para o processo de reabilitação cognitiva, uma vez que lesões semelhantes podem ter diferentes expressões cognitivas. Logo, a reabilitação neuropsicológica objetiva a adaptação do indivíduo ao seu ambiente, implicando na restauração neuropsicológica do paciente ao seu nível máximo de adaptação física, psicológica e social, o que inclui todas as medidas voltadas à redução do impacto de uma incapacidade ou deficiência e à reintegração social.
As neurociências têm fator determinante na evolução tanto da TCC quanto da neuropsicologia.
Os achados da neurociência modificaram totalmente o entendimento do funcionamento do cérebro humano e podem transformar os tratamentos de suas patologias.
O desafio fundamental para a neurociência hoje é, no entanto, a integração de achados de pesquisas básicas em abordagens clínicas aplicadas ao tratamento de transtornos cerebrais.
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